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Mundo SEM Bitucas e Ciência Cidadã – O que isso tem a ver com você?

Gilda Esteves - 03.09.2019



A ciência cidadã, nos dias de hoje, pode ser definida pela participação voluntária do público em geral, que realiza tarefas muito semelhantes à dos pesquisadores, com o objetivo de gerar dados científicos de qualidade. Os voluntários, participam coletando, categorizando, transcrevendo ou analisando dados científicos e utilizam, muitas vezes, tecnologias móveis, internet, sensores, entre outros para coletar ou tratar as informações. Ao aderir a um projeto de ciência cidadã, o voluntário passa a fazer parte da equipe atuando como um cidadão cientista. Além de contribuir com a ciência o voluntário também recebe benefícios intrínsecos e extrínsecos que variam desde satisfação pessoal até reconhecimento, socialização e aprendizado.

No Brasil, embora a ciência cidadã ainda esteja em estágio embrionário, o seu uso vem crescendo e algumas iniciativas estão praticando, de forma pioneira, o engajamento do público não acadêmico nos processos da pesquisa científica. O descarte inadequado de bitucas é um problema global e por isso, um problema de todos nós. Tratando-se especificamente do combate à poluição por plásticos de uso único, sua redução necessita do apoio e da união da academia, governo, indústria, ONGs e da sociedade. Neste cenário, envolver o cidadão através da pratica da ciência cidadã permite atingir o potencial máximo da ciência que é a transferência de conhecimento cientifico e o seu envolvimento nos principais desafios da sociedade atual. Entretanto, encontrar, envolver, coordenar e reconhecer o trabalho desses voluntários é uma tarefa complexa e cada projeto de ciência cidadã deve ser cuidadosamente projetado para atingir seus objetivos. Além disso, cada etapa do projeto de ciência cidadã deve ser customizada e elaborados protocolos e metodologias de fácil entendimento para garantir a padronização dos resultados, sua reprodutibilidade e obtenção de dados confiáveis, incluindo métodos de controle de qualidade.

O projeto Pellet Watch, por exemplo (http://www.pelletwatch.org) disponibiliza no seu site um documento que explica a metodologia de coleta, armazenamento e envio dos pellets coletados (pequeno grânulo de resina plástica, com diâmetro de alguns mm, geralmente com formato de um cilindro ou disco). Isso permite que os dados coletados em diferentes lugares do planeta possam ser comparados e os protocolos de coleta replicados.

No Brasil, existem várias iniciativas e Organizações Não Governamentais que mobilizam voluntários, em mutirões de limpeza de praia, ao longo de toda a costa brasileira. Desde 1993 o movimento “Clean Up the World” vem mobilizando a sociedade no mês de setembro com foco na proteção do meio ambiente apoiando a realização de várias atividades para limpeza, proteção e conservação do meio ambiente. Este programa é realizado em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente que, desde 2017, iniciou a campanha #mareslimpos, uma ação mundial para limpeza de praias, para coleta e classificação dos resíduos sólidos, seguindo um protocolo que inclui a classificação em itens previamente definidos. Embora seja um avanço na quantificação em termos relativos, algumas melhorias podem ser incorporadas nos protocolos de coleta com o objetivo de gerar dados mais uniformes, em termos de tempo de esforço, área de coleta e número de participantes. Além disso, os dados devem ser públicos para que possam ser utilizados para dar suporte a melhores tomadas de decisão.

Atualmente, os movimentos de mutirões de limpeza de praias no Brasil, que engajam cidadãos na coleta e classificação de resíduos, são importantes para: conhecer a abundância relativa dos itens coletados; levar conhecimento ao cidadão; conscientizar a sociedade sobre os impactos do descarte inadequado de resíduos sólidos (incluindo bitucas de cigarros) e mobilizar o cidadão para que individualmente e/ou coletivamente comece a agir e entender que as suas ações individuais impactam o meio ambiente. O cidadão que participa destes mutirões de limpeza recebe em troca uma experiência única que muitas vezes se torna o gatilho para uma mudança de comportamento.

A ciência cidadã é isso, engajar cidadãos não cientistas para realizar tarefas seguindo protocolos e gerando conhecimento cientifico. Atualmente, o que venho percebendo nos mutirões de limpeza de praia é a falta de um método científico padronizado, que permita que o resultado de uma ação de coleta de resíduos, incluindo a contagem de bitucas, possam ser comparados com outro resultado para que conclusões cientificas confiáveis possam ser tomadas e os dados coletados possam ser replicados, confrontados, contestados e validados pela comunidade cientifica. Por isso, eu deixo aqui um convite para que os métodos que estão sendo utilizados sejam compartilhados nos comentários de maneira a criarmos protocolos e metodologias de investigação que possam contribuir na pesquisa sobre: “Bitucas de cigarro: ocorrência, distribuição e danos ao meio ambiente”. Deixe nos comentários suas sugestões; curiosidades, questões de pesquisa; metodologias e links para exemplos que possam ser replicados em projetos de ciência cidadã no Brasil.

Aproveito também para convidá-los a participar dos diversos eventos que vão ocorrer no mês de setembro. Fiquem atentos e informem-se sobre as ações que vão acontecer na sua cidade. Participe! O Planeta e as próximas gerações agradecem!


Gilda Esteves

Idealizadora da Plataforma Fast Science @plataformafastscience < fastscience.com.br>

Cocriadora do Instituto Blue Change @bluechangebrasil <bluechange.eco.br>

Cocriadora do Movimento Recreio Limpo @recreiolimpo <recreiolimpo.org>

Líder de pesquisa @lfuturo <http://labfuturo.cos.ufrj.br>


Imagem:

Cidadãos cientistas em ação - Movimento Recreio Limpo/setembro de 2017.




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