Bituqueiras colorem a Rua Maria Antônia

Estudante e microempresário, Mateus Quintana, produtor dos cinzeiros ecológicos, quer ajudar a preservar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, gerar uma rede de solidariedade. Por Janes Rocha, jornalista e ativista do Mundo SEM Bitucas (twitter @rocha_janes; instagram janrocha22) - 24/12/2019.

A Rua Maria Antônia, no centro de São Paulo, é um fervo. Circulam por ali diariamente centenas de jovens, estudantes da universidade Mackenzie.

Há também muitos frequentadores dos centros culturais ao redor, como o Centro Universitário da USP e o Sesc Consolação, na rua Dr. Vila Nova. Dezenas de botecos, pubs, restaurantes e padarias funcionam na área para atender esse público e também os trabalhadores dos escritórios nos prédios vizinhos, seguranças, porteiros, etc.

Quase todo fim de tarde, faça sol ou chuva, frio ou calor, dezenas de estudantes se sentam no murinho da entrada do Centro Universitário (foto acima) para bater papo, beber e fumar. O resultado, no dia seguinte, é esse da foto abaixo.

A calçada, a sarjeta, a grade que ladeia o que um dia foi um tronco de árvore, bem na frente do Centro Universitário, ficam coalhadas de bitucas de cigarros. O Centro Cultural mantem apenas uma bituqueira metálica na calçada, mas ela fica amarrada em um canto, ninguém se levanta para apagar o cigarro ali.

Incomodado com a sujeira, Mateus Quintana, 19 anos, estudante do Mackenzie, trouxe para a Rua Maria Antônia os cinzeiros ecológicos desenvolvidos pela sua microempresa, a Squar Pitaz.

Os cinzeiros (ou bituqueiras) são feitos a partir de embalagens de produtos de limpeza coletadas por catadores parceiros, higienizadas e decoradas artisticamente. Um CD velho é instalado na parte superior para apagar o cigarro e a bituca pode ser jogada dentro do vasilhame através do furo central.

Mateus combinou com os comerciantes e porteiros para a recolha das bitucas (é só abrir a tampa da embalagem na parte de baixo) e a destinação correta.

“Prezamos pela sustentabilidade”, diz Mateus. Ele cita estimativa da Organização Mundial da Saúde de que perto de 12,3 bilhões de bitucas são descartadas diariamente, contaminando o solo, rios e córregos no mundo todo. O objetivo dele é distribuir cinzeiros ecológicos nos locais aonde à fumaça rola solta, visando diminuir o acúmulo de bitucas jogadas nas ruas.

O Mateus teve muito trabalho e valeu a pena. Logo que os cinzeiros ecológicos ficaram disponíveis a uma distância curta na calçada, a galera fumante passou a utilizar o serviço gratuito. A redução de bitucas atiradas ao chão era visível nos dias seguintes – sei porque trabalho no prédio do Centro Cultural da USP e desde que comecei a participar do movimento Mundo SEM Bitucas tenho prestado mais atenção à quantidade delas no chão.

Os cinzeiros ecológicos da Squar Pitaz já estão em 30 localidades de concentração de fumantes na capital de São Paulo. Através de amigos, eles já chegaram em Belo Horizonte e até em Punta del Este, no Uruguai.

Infelizmente, nem todo mundo entende a proposta e alguns cinzeiros foram vandalizados, roubados ou simplesmente retirados por vizinhos que não gostaram da ideia. Mas Mateus diz que já está desenvolvendo um modelo 2.0 que tornará mais prático o produto para o usuário, mais resistente e desmotivará o roubo.

A Squar Pitaz é dedicada a produtos para fumantes de tabaco puro, canabis e outros fumos. Vende piteiras, capas produzidas com papel reciclado, 100% sem plástico, papel especial para enrolar natural verde, atóxico e livre de cloro, com tinta atóxica. A estratégia é a “redução de danos”, diz Mateus.

Preservar o meio ambiente é um dos lados do “quadrado” – “square” em inglês, expressão que inspirou o nome da empresa. Mas a intenção dele vai mais além. “Buscamos criar um significado de igualdade e respeito a todos, independentemente de suas diferenças, gênero, etnia, orientação sexual, assim expandindo a cultura do amor em nossa sociedade”, afirma Mateus.

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